Celso de Almeida Jr.
Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 23 de outubro de 1999
O 23 de outubro é uma data importante para o Brasil. Nesse dia, em 1906, perante a Comissão Científica do Aero Clube da França e prestigiado por grande multidão, o inventor brasileiro Santos Dumont fez, com o 14 bis, o célebre voo - de cerca de 60 metros a uma altura aproximada de dois metros - que confirmou inteiramente a possibilidade de um homem voar.
Santos Dumont orgulhava-se de suas origens e reiterava que as homenagens que recebia refletia-se em toda a nação. Foi, sem dúvida, um homem excepcional. Além de inventor, conduziu os aparelhos aéreos da época, possuindo todas as cartas da Federação Aeronáutica Internacional: piloto de balão livre, piloto de dirigível, piloto de biplano e piloto de monoplano.
Sua paixão pelas coisas do país herdou, possivelmente, de seu pai, o engenheiro Henrique Dumont, brasileiro de Diamantina. Os conselhos, os exemplos de trabalho, de audácia, de economia e sobriedade, além dos recursos para garantir seus estudos e pesquisas na França, fizeram com que Santos Dumont afirmasse repetidas vezes: "Tudo devo ao meu pai."
Ao país, o inventor, dentre muitas alegrias, brindou em 1898: "O meu primeiro balão. O menor. O mais lindo. O único que teve um nome: Brasil."
Depois, partiu para a construção de balões dirigíveis, dando número a todos. Tanto que o 14 bis derivou do balão Nº 14 ao qual Santos Dumont pendurava seu aeroplano realizando, com esse conjunto, várias e prudentes experiências no campo de Bagatelle. Quando habituou-se com as manobras, desfez-se do balão Nº 14. Estava pronto para o voo com o 14 bis.
Na época seus feitos foram mundialmente reconhecidos sendo convidado para percorrer diversos países como conferencista. O Brasil, entretanto, mantinha poucos investimentos em aeronáutica levando Santos Dumont, em 1917, a procurar o presidente da República, recomendando providências: "Falou mais alto que minha timidez o meu patriotismo revoltado."
Cobrou do presidente que o país deveria ter um eficiente corpo de aviadores. Insistia que o êxito da formação dependia de bons campos de aviação. Indicava a instalação de uma escola, sugerindo ser preferível trazer professores da Europa e Estados Unidos, em vez de para lá enviar alunos. O presidente agradeceu dizendo que se tivesse necessidade de seus conselhos, o preveniria.
No mundo inteiro os governos prestigiavam os precursores da aeronáutica, convidando-os para auxiliar na construção e na organização da navegação aérea. Enquanto isso, no Brasil, a capacidade e a sabedoria de Santos Dumont não eram aproveitadas.
O século está quase terminando e, ainda hoje, nossos cientistas e pesquisadores são pouco valorizados pelos donos do poder. Grande parte dos políticos não consegue conviver com a sabedoria. Reconhecem o talento, porém, sentem-se ofuscados.
Mas como o tempo é o senhor da razão, as previsões de Santos Dumont foram se concretizando e o Brasil seguiu seus pensamentos. Hoje, escolas como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e a Academia da Força Aérea (AFA) valorizam o país oferecendo ensino de excelente qualidade.
Aproveito para citar que convivo, há 12 anos, com um ex-aluno da AFA(na ocasião, Escola de Aeronáutica) que foi, inclusive, primeiro da turma(1952), recebendo cumprimentos do presidente Getúlio Vargas. A bagagem cultural, adquirida graças aos estudos contínuos, gerados pela permanente atenção de sua mãe, D. Lena e ao forte conteúdo da Academia, forjou um homem admirável que grande contribuição deu ao país, comandando a 1ª equipe de salvamento aéreo com helicópteros.
Deixou a aeronáutica passando a dedicar maior tempo à esposa, formando uma família maravilhosa. Foi, certamente, um jovem que voou nos sonhos de Santos Dumont e, como ele, dominou os pássaros do progresso. Coincidentemente, nasceu num 23 de outubro.
O que esse final tem a ver com política e políticos? Talvez não com a política municipal, mas sim com a política doméstica. O aniversariante é o professor Lemar, meu sogro, cujos amigos sabem que eu não exagerei. E, em nome de todos, torno público os PARABÉNS!
Meu País
Ivan Lins