Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 30 de outubro de 1999
Ubatuba-SP, 30 de outubro de 1999
O filósofo grego Platão (427-347 a.C.) dedicou grande parte de seu pensamento ao estudo da Política.
Também pregou que conhecer era, de certo modo, recordar.
Sobre isso descreveu que o filósofo Sócrates(470-399 a.C.), de quem foi discípulo, pegou um escravo ignorante e, através de perguntas habilmente formuladas, fez com que este descobrisse a demonstração do teorema de Pitágoras.
Para Platão, essa seria uma prova de que a alma, antes de encarnar, havia visto o mundo supremo das ideias e mantinha, em forma oculta, esse conhecimento.
O grande acontecimento da mocidade de Platão foi o encontro com Sócrates.
Considerava-o "o mais sábio e o mais justo dos homens" e, por isso, ampliou seu desencanto com os políticos atenienses quando viu Sócrates ser acusado, por eles, de corromper a juventude difundindo ideias contrárias a religião tradicional, sendo condenado a morrer, bebendo cicuta.
As obras de Platão, escritas sob a forma de diálogo, marcaram as bases da civilização ocidental, influenciando o cristianismo em seu início.
Seus primeiros diálogos constituem defesas que Platão fez de seu mestre.
Mais adiante, em Fédon, diálogo no qual Platão descreve os últimos instantes de vida e as últimas conversações de Sócrates, pouco antes de beber cicuta, encontramos:
"Existe, contudo - prosseguiu Sócrates - ao menos uma coisa em que seria justo que todos vós refletisseis: se a alma é de fato imortal, se faz necessário que zelemos por ela, não só durante o tempo presente, que denominamos viver, mas ao longo de todo o tempo, pois seria grave perigo não se preocupar com ela."
Lendo estes pensamentos de quase 2400 anos, às vésperas de mais um dia de finados, é difícil não aflorar nosso lado mais místico.
Estaremos, com maior intensidade, lembrando os nossos mortos e o quanto eles representam para a nossa existência.
Nesse sentido, recomendo a leitura da interessante reportagem de 10 páginas sobre o Sudário de Turim, publicado em outubro, na revista Galileu, da Editora Globo.
O Sudário de Turim, uma peça de linho que a tradição diz ser o lençol mortuário de Jesus, passou por mais uma bateria de testes que confirmou sua autenticidade.
A fé dos cristãos já apontava para isso, mas as constatações da ciência sempre colaboram para balançar os mais céticos.
Na reportagem, o que mais intriga é descobrir como foi produzida a imagem que aparece no Sudário.
A Galileu mostrou que a figura só ocorreria se, numa fração de segundo, o corpo tivesse emitido um clarão equivalente ao da luz solar ou de uma explosão nuclear, como a da bomba de Hiroshima.
A luz teria emanado do corpo, chamuscando o pano, estampando a imagem que seria de Jesus Cristo.
Impressionante, não é mesmo?
Tantos mistérios que povoam os pensamentos, antes e depois de Cristo, parecem empurrar os homens para a verdade.
Pôncio Pilatos perguntou a Cristo:
"Quid est veritas? Que é a verdade?"
Formulou a pergunta e ausentou-se, desinteressando-se, ao que parece, da resposta.
Não procurou ouvir, adotando assim uma conduta previsível.
Pilatos era um político.
Ao espantar-se com a dúvida, transferiu sua decisão ao povo ensandecido.
E lavou as mãos.
Bridge Over Troubled Water
Paul Simon
Elvis Presley