1.5.17

Máquina do tempo

Celso de Almeida Jr.


Ubatuba, 1 de maio de 2017

Com a notícia veiculada na última semana de abril de 2017, revelando que a Embraer e a Uber produzirão aeronave vertical para transporte urbano, imaginei o momento de viagens em uma Máquina do Tempo.
Sonhei...
Fui à Paris, em 1904, na livraria Charpentier et Fasquelle, que acabara de publicar Dans l’Air, obra do inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, futuramente traduzida para o português com o título Os meus balões.
Recebido pelo editor Eugène Fasquelle, em menos de uma hora eu já conversava com o “Pai da Aviação”.
Homem muito à frente de seu tempo, Santos Dumont não se surpreendeu quando expliquei que voltei no tempo, a partir de 2017.
Informei que trabalho em uma escola que estimula o contato com diferentes tecnologias e que gostaria de ouvir algumas sugestões dele sobre o tema.
Entusiasmado, o inventor autografou um exemplar de seu livro e detalhou que a introdução fez em forma de fábula, enfatizando raciocínios infantis.
Nela, duas crianças brasileiras do interior, que só conheciam as primitivas lavouras do século XIX, conversavam sobre possíveis formas de aliviar o trabalho humano.
E, numa longa caminhada, vão se deparando com surpreendentes invenções que desconheciam, como uma locomotiva e um navio a vapor.
A surpresa leva um dos meninos - Luís - a acreditar e a defender a possibilidade de dirigir balões, opinião que seu colega - Pedro - discordou completamente.
“Como pode perceber, me identifico totalmente com o Luís e consegui provar a dirigibilidade dos balões quando contornei a torre Eiffel, ganhando o Prêmio Deutsch, em 1901”, ressaltou Dumont.
O autor detalhou a evolução de seus aparelhos desde o Balão Brasil (o único que teve um nome) até os mais recentes: o Nº 7 (de corrida); o Nº 9 (de passeio) e o Nº 10 que esperava tornar o primeiro dos ônibus aéreos do futuro, levando até 20 pessoas.
Preferi não anunciar a Santos Dumont que o Nº 10 não atingiria seu objetivo, mas acabei lhe dizendo que, em dois anos, ele daria outra grande demonstração ao mundo de seu poder criativo.
Desculpei-me, porém, por não poder dar maiores detalhes, já que ainda não se estabeleceu um código regulador para as informações autorizadas nas viagens no tempo.
Apesar de compreensivo, o inventor brasileiro aparentemente fez uma provocação, lendo um trecho da conclusão do livro, que também redigiu em forma de fábula:
“Nossa única esperança de navegar no ar...devemos procurá-la no mais pesado...na máquina voadora ou aeroplano. Raciocine por analogia. Olhe o pássaro.”
Naquele 1904 ele ainda não sabia que em 1906 realizaria o célebre voo com o 14 bis, decolando, voando e aterrissando pela primeira vez uma máquina mais pesada que o ar com seus próprios meios, sem auxílio de qualquer equipamento externo.
A conversa com o inventor se estendeu.
Dumont pediu a Eugène Fasquelle algum conteúdo sobre Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que em 1750 recebeu o primeiro prêmio de um concurso que propunha o tema:
“Se o progresso das ciências e das artes tinha contribuído para aprimorar os costumes”.
Rousseau ganhou fama por discordar, acreditando que a civilização tinha perdido o sentido do homem interior, denunciando sua desumanidade. 
Santos Dumont sugeriu que eu debatesse esse pensamento com os estudantes e professores de nossa escola, conferindo se os avanços tecnológicos provocaram mudanças no comportamento humano quanto as relações interpessoais.
Recomendou, também, uma reflexão sobre as conquistas da antiguidade e do renascimento, tão marcantes para a chamada cultura ocidental.
E que, ainda, procurasse estudar com mais profundidade as culturas orientais, extremamente ricas e ainda tão desconhecidas, afirmando:
“Nós queremos saber tudo e sabemos tão pouco!”
Alberto Santos Dumont ressaltou que suas ações visam compartilhar o conhecimento, estimulando o desenvolvimento de novas máquinas, mais aprimoradas, mais eficientes.
Em função disso, sentia-se bastante entusiasmado em conhecer um viajante do tempo.
Gentil, disse que, quando voltasse ao Brasil, procuraria conhecer as praias de Ubatuba.
Por alguma razão, não insistiu em saber detalhes do futuro.
Alguma apreensão parecia dominá-lo, o que a sua história de vida confirmaria.
Um encontro fantástico...parecia real!
Talvez, por isso, acordei assustado.
A conta da Uber estouraria o cartão...

PS: Tudo indica que não era sonho...máquina do tempo parada no espaço...bateria do celular acabando...

Medo de Avião
Belchior

10.4.17

Cem dias

Celso de Almeida Jr.

Casimiro Montenegro Filho

Ubatuba, 10 de abril de 2017

Enfim, alcançamos os cem primeiros dias de governo dos prefeitos eleitos em 2016.
Há muitos avanços.
Especialmente no que se refere ao aprimoramento da comunicação com os munícipes.
As redes sociais, bem utilizadas, garantem ao cidadão um envolvimento maior no dia a dia da administração da cidade.
E, para o político dedicado, o uso inteligente destas e de outras ferramentas gera a oportunidade para consolidar a liderança e valorizar o empenho de suas equipes.
Renovando as esperanças neste momento decidi reler “Montenegro – As aventuras do Marechal que fez uma revolução nos céus do Brasil”, escrita pelo brilhante Fernando Morais.
Esta bela reportagem biográfica sobre Casimiro Montenegro Filho deveria ser leitura obrigatória para todos os políticos brasileiros.
Este homem excepcional, precursor do Correio Aéreo Nacional e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, faleceu em 2000, aos 95 anos.
No centenário de seu nascimento, em singela homenagem, foi brindado por também possuir, simultaneamente, as virtudes dos 5 Hs: Humildade, Habilidade, Honestidade, Humor e Humanidade.
Sem dúvida, um homem exemplar.
Abrindo a publicação de Fernando Morais e fechando estas minhas linhas nos cem dias inaugurais das administrações municipais, segue um pensamento deste grande brasileiro que, creio, deveria nortear os prefeitos pelos muitos dias que terão que encarar na difícil tarefa de gerir seus municípios:
“Em toda minha vida profissional, jamais acreditei em messianismo, estrelismo, concentração do poder e do mérito em um só indivíduo. Sempre trabalhei em equipe. E se algum merecimento tenho, é o de ter sabido despertar em meus companheiros o entusiasmo, delegar-lhes autoridade com responsabilidade, exortá-los ao pleno uso de suas potencialidades e qualidades, em proveito do povo brasileiro.” (Casimiro Montenegro Filho).

Estrada do Sol
Antonio Carlos Jobim/Dolores Duran
Jobim Jazz, com Nana Caymmi

12.3.17

Saca-rolhas

Celso de Almeida Jr.

Ligia Moreira

Ubatuba, 12 de março de 2017

Abra um bom vinho.
Lembre-se, antes, que a rolha sacada vem do sobreiro.
Uma árvore cuja casca, a cortiça, se autorregenera.
Para a rolha, o material é obtido somente a partir do terceiro descortiçamento, garantindo a qualidade necessária para o isolamento adequado do vinho.
O detalhe é que a primeira extração só ocorre quando o sobreiro atinge 25 anos de idade.
Depois, aguardam-se mais 9 anos para a próxima extração.
No caso das rolhas, portanto, vamos obtê-las quando a árvore já atingiu 43 anos.
Pois é...
Isso veio à cabeça quando o professor Paulo Fernando Cassoli mostrou o primeiro exemplar do Saca-rolhas, jornal do Grêmio Estudantil da Escola Deolindo de Oliveira Santos, datado de 25 de abril de 1969.
Foi no encontro de ex-alunos, turmas de 1970 à 1985, capitaneado pela Lígia Moreira.
Foi ela que garantiu a mobilização de uma centena de pessoas, separadas por algumas décadas, mas unidas em pensamento e coração.
Aliás, tinha que ser a Lígia!
Sua determinação, dedicação, coragem e amor pelo que faz garantiram a certeza nos participantes de que o evento aconteceria da melhor forma.
Exatamente o que virou realidade!
Foi bonito encontrar amigos e observar reencontros.
Como se - de fato - tivéssemos sacado uma elaborada rolha do tempo e saboreado um vinho delicioso.
Fruto de amizades, relacionamentos, enfim, da aventura humana em uma escola, numa especial época de nossas vidas.
Assim, seguimos em frente, na esperança de novos encontros, brindando ao que há de melhor em todos nós.

Coração de Estudante
Milton Nascimento/Wagner Tiso

19.2.17

Vou ali. Já volto

Celso de Almeida Jr.


Ubatuba, 19 de fevereiro de 2017
Publicado no Canal R1 - 20/2/17

Fui ao lançamento do livro "Vou Ali. Já Volto - O voo transatlântico do avião Jahú", editado pelo Instituto Salerno-Chieus, de autoria de Cesar Rodrigues.
A obra comemora os 90 anos da travessia do Atlântico Sul com tripulação 100% brasileira, sob o comando de João Ribeiro de Barros que contou ainda com João Negrão (copiloto), Newton Braga (navegador) e Vasco Cinquini (mecânico).
O título do livro remete à declaração do comandante ao deixar o Brasil para buscar o hidroavião Savoia-Marchetti S-55 em fábrica da Itália e iniciar o reide em Gênova: “Vou ali. Já volto”.
As frases do seu lema estavam nos dois botes formadores da fuselagem.
Por R$ 22,00, com frete incluso, adquira um exemplar, solicitando instruções pelo e-mail trafego.aereo.brasil@gmail.com
O histórico voo do S-55, batizado de Jahú em homenagem à terra natal de Ribeiro de Barros (Jaú-SP), foi marcado por dificuldades, angústias, disputas, sabotagens, conflitos, enfim, roteiro digno de um bom filme de aventura.
Ao se preparar e perseverar, João Ribeiro de Barros garantiu o impulso necessário para seguir em frente, contando com o precioso apoio de gente determinada como ele.
Passados 90 anos, encurtar as distâncias geográficas já não representa o grande desafio do presente. 
As distâncias que ainda incomodam - em nosso tempo ou no tempo dos tripulantes do Jahú - são aquelas que se referem aos relacionamentos interpessoais.
Nesse campo, a humanidade continua enfrentando dificuldades, angústias, disputas, sabotagens, conflitos, enfim, o mesmo e repetitivo roteiro de séculos.
Com este histórico, fica a dúvida se - em uma década - brindaremos o centenário do voo do Jahú em um mundo mais justo e solidário.

Asas do Jahú
Marcelo Tupinambá/Otacílio Gomes

7.2.17

Papo com Gabeira

Celso de Almeida Jr.


Ubatuba, 7 de fevereiro de 2017
Publicado no Canal R1 - 9/2/17

Por iniciativa do professor Nelson Medeiros, tivemos uma agradável conversa com Fernando Gabeira, na Sala Gastão Madeira, sede do NINJA-Núcleo Infantojuvenil de Aviação.
Fernando Gabeira, escritor, jornalista, ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro (1998-2010), comanda um programa na Globo News.
Nosso papo aconteceu quando da visita que fez aos aeroportos de Paraty, Angra e Ubatuba, procurando discutir as condições de segurança de voo nesta região com chuvas frequentes e a imponente presença da Serra do Mar.
Na pauta, o acidente que vitimou, entre outros, o Ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.
O programa foi ao ar recentemente e gerou muita repercussão.
Quando puder, visite a página e confira este e outros vídeos: 
Tive a oportunidade, após registrar meu ponto de vista sobre o tema, de conversar um pouco mais com este brasileiro de Juiz de Fora, carioca por opção desde 1963.
Assim, ele conheceu mais detalhes do Núcleo Infantojuvenil de Aviação além de passagens curiosas da história de Ubatuba, cidade que pouco frequenta, já que está mais habituado com Paraty, nossa vizinha.
Ficamos de manter contato para, quem sabe, viabilizar uma pauta de algum interessante tema ubatubense.
Na despedida, num dia chuvoso, pensei sobre a grande contribuição que pensadores como ele dão ao país.
Na abertura do site de seu programa está lá:
"O jornalista Fernando Gabeira vai às ruas não apenas para trazer uma nova opinião, mas para saber como repercutem nas pessoas e como alteram suas vidas cotidianas."
Excelente profissional que é, cumpre integralmente esta bela missão.

De papo pro ar
Renato Teixeira

31.1.17

Gerador

Celso de Almeida Jr.


Ubatuba, 31 de janeiro de 2017
Publicado no Canal R1 - 2/2/17

Tente gerar empregos.
Vamos lá...
Coragem!
Encare a legislação do trabalho.
Experimente fiscalizações arbitrárias.
Sinta a emoção de participar de uma audiência trabalhista.
Conheça reclamantes gulosos. 
Saboreie o gosto amargo de pagar indenizações desproporcionais.
Entre no clube dos devedores da previdência.
Viva as surpresas de ser empreendedor.
Vista o rótulo de "explorador".
E, perseverante, siga em frente.
Agora, leia os jornais:

"Com 12,3 milhões de pessoas desocupadas, o Brasil fechou o quarto trimestre de 2016 com uma taxa média de desemprego de 12%, a maior desde o início da série histórica, em 2012."

"A OIT estima que, entre 2016 e 2017, o exército de desempregados no planeta aumentará em 3,4 milhões. Mas o epicentro dessa crise será o Brasil, responsável por 35% desse número, com 1,2 milhão em 2017 e mais 200 mil em 2018. De cada três novos desempregados no mundo, um será brasileiro."

Pois é...
Criar empregos exige, primeiro, gerar empregadores.
Quem se habilita?

Vide, Vida Marvada
Rolando Boldrin & Demônios da Garoa

22.1.17

Marcelo Pimentel, 50

Celso de Almeida Jr.

Marcelo e Vera

Ubatuba, 22 de janeiro de 2017
Publicado no Canal R1 - 25/1/17

Em mesa na calçada da avenida Gomes Freire, centro do Rio de Janeiro, ouvia o Ricardo.
Palavras bonitas - do coração - sobre as qualidades do seu irmão, o aniversariante Marcelo Pimentel.
Para encher o copo, entrei no Salsa & Cebolinha, o restaurante de mais de três décadas - da Conceição - escolhido para brindar o cinquentenário do amigo querido.
No balcão, enquanto completavam o chopp, ouvi a Edda, amiga de sua mãe - das serestas no Cariocando - elogiar a voz do Marcelo, que naquele instante cantava com o pai, Dilvar.
E gente chegando, dos tempos da faculdade de jornalismo.
Abraços emocionados...e mais parentes e amigos conquistados em meio século.
Cícero, Virgílio, José Rui, Valéria, Lilian Olivetthi, Joel, Lobão, Vanderlei...
O Roberto Silveira, comovido, disse da felicidade de ter conhecido Marcelo e família, lá na segunda metade dos anos oitenta, ressaltando o quanto aprendeu com eles.
Parou a música.
O aniversariante no microfone chama a esposa Vera, os pais Creusa e Dilvar, os irmãos Andréa e Ricardo, os filhos Sophia e João e todos os parentes. 
Um bonito grupo se forma na frente do salão.
Belas as palavras do Marcelo.
Um ser humano muito zeloso com seus familiares, muito solidário com seus amigos, muito dedicado em aproximar as pessoas, procurando tornar a vida mais feliz.
Logo depois, falou o Dilvar, músico que eu considero um filósofo.
Registrou a emoção de ter construído uma família especial, lembrando que não teve esta chance em sua infância.
Volta a música...
Vem a feijoada, deliciosa!
E, para combinar, uma mini-caipirinha, porque não sou de ferro...
Mais que brindar o aniversário de um amigo de várias décadas, tão especial - que vira meu chefe nas andanças do marketing político e governamental - foi um brinde aos relacionamentos humanos.
Acreditar que é possível pautar a nossa existência na doce tarefa de aproximar as pessoas.
Nesse quesito, o Marcelo Pimentel também é campeão!!
Vamos em frente, meu amigo!
Rumo aos sessenta!!!!!

Rio Mulher
Dilvar Pimentel

14.1.17

Perigo

Celso de Almeida Jr.


Ubatuba, 14 de janeiro de 2017
Publicado no Canal R1 - 17/1/17

Um amigo, policial, desabafou.
Não suporta mais a profissão.
Diariamente, atende as mais diversas ocorrências, com dedicação e empenho.
O salário é pequeno, o risco é grande.
Complementa com atividades extras.
Assustado, sabe de colegas de profissão, incluindo superiores, que flertam com a criminalidade.
Não está vendo um futuro promissor.
Caso desista da carreira, será uma pena.
Nós, cidadãos, perderemos um grande aliado.
Atônito, eu não soube o que dizer.
Pedir que mudasse de ideia seria uma responsabilidade muito grande.
Basta ler o noticiário - diariamente - e ver o que os policiais enfrentam.
Pois é...
Aos poucos, a sociedade brasileira vai sendo encurralada.
E, sabemos, quem fica acuado, na grande maioria das vezes, não reage bem...

Fera ferida
Roberto Carlos
Maria Bethânia

8.1.17

Privada pública

Celso de Almeida Jr.


Ubatuba, 07 de janeiro de 2017
Publicado no Canal R1 - 11/1/17

Vamos lá...
Sou um grande defensor do estado menor, mais enxuto, mais barato.
Que menos interfira na vida dos cidadãos e transfira para a iniciativa privada o máximo de serviços. 
Consolidei tal pensamento atuando como empreendedor e, também, pela proximidade que tenho com políticos de diferentes regiões do Brasil.
Será, entretanto, que esta é ação primordial para o país deslanchar?
Ou a vergonhosa aliança do setor público e privado - explicitada pela operação Lava Jato - prova que tamanha expectativa de competência na iniciativa privada não significa a solução imediata de nossos dramas?
Um exemplo recentíssimo foi o contrato de parceria publico-privada para a administração de unidades prisionais do Amazonas, que, em Manaus, neste início de 2017, não evitou o terrível massacre de mais de 50 detentos por facção criminosa.
E a telefonia brasileira?
Passados tantos anos, o salto magnífico com a privatização ainda não garantiu um serviço de qualidade com preços justos.
Assim, parte dos brasileiros se agarra a convicção de que precisamos de um estado forte, centralizador, desenvolvimentista e outra grande parcela prefere a ampla redução do estado, acelerando as parcerias com a iniciativa privada.
Nossos imediatos dramas, porém, penso que são outros.
Vivemos, em escala elevada, nas duas esferas - pública e privada - um imenso desprezo por padrões éticos; um total distanciamento da realidade; uma soberba sem controle; o desprezo absoluto pela opinião alheia; o flerte inaceitável com a criminalidade; a incapacidade de refletir, argumentar, assumir responsabilidades; a ausência assustadora de competências; o descarte espantoso de planejamentos rigorosos.
Esta complexa crise de valores e de comportamentos deveria ser estudada e discutida, permanentemente, por famílias, escolas e empresas.
É o que testemunhamos nestes tempos?
Talvez, a crise moral que atingimos provoque uma reação positiva no sentido de valorizar a educação, a formação, o planejamento, os relacionamentos construtivos e a transparência administrativa em todos os níveis.
Se assim for, as dores presentes poderão ser diluídas, permitindo que instituições públicas e privadas trilhem caminhos extraordinários, gerando confiança, riqueza e, principalmente, bons exemplos.

Eu quero é botar meu bloco na rua
Sérgio Sampaio
Casuarina - Lenine

2.1.17

Sinal

Celso de Almeida Jr.


Ubatuba, 2 de janeiro de 2017
Publicado no Canal R1 - 3/1/17

Em Boa Esperança, Minas Gerais, testemunhei uma ação magnífica do prefeito eleito para a gestão 2017-2020.
Às vésperas da posse, Hideraldo Hema anunciou o secretariado.
Até aí, normal.
O diferencial foi assinar com seus colaboradores um termo com os seguintes compromissos:

1) Cumprir a Constituição da República Federativa do Brasil, a Constituição do Estado de Minas Gerais e a Lei Orgânica do Município de Boa Esperança.

2) Implantar na Administração Pública a Cultura do Rigor alicerçada na Gestão de Alto Desempenho, na Disciplina Orçamentária, na Ética e na Harmonia.

3) Construir com o funcionalismo, num prazo de 100 dias, sob mediação da Controladoria Municipal, um Código de Conduta que evidencie os seguinte princípios constitucionais: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade, Eficiência e Transparência Administrativa.

4) Agir, balizado no seguinte pensamento de Rubem Alves:

Todo jardim começa com um sonho de amor.
Antes que qualquer árvore seja plantada
ou qualquer lago seja construído,
é preciso que as árvores e os lagos
tenham nascido dentro da alma.

Quem não tem jardins por dentro,
não planta jardins por fora
e nem passeia por eles...

Bela atitude do novo prefeito e sua equipe.
Reforça que não adianta pregar novas ações se isto não estiver consolidado no íntimo de cada participante.
Ainda mais neste instante, em que muitas denúncias de irregularidades no município têm levado ao afastamento e até a prisão de servidores.
Ao se comprometer em construir um Código de Conduta com todo o funcionalismo - consolidando primeiro "os jardins por dentro" - é grande a probabilidade de bons frutos serem colhidos.
Absorvido pelo tema, vejo as notícias de que o governo federal cancelou, na última semana, uma licitação para a compra de alimentos de alto padrão, para abastecer o avião do Presidente da República. 
Sorvetes de marcas famosas, sucos, pães especiais, refeições com entrada, prato principal e sobremesas, cápsulas de café, sanduíches, entre outros itens, gerariam gastos superiores a R$ 1,7 milhão.
Originalmente prevista para 2 de janeiro, a licitação definiria a empresa responsável pelo serviço de bordo por um ano.
O ministro da Casa Civil disse que houve “orientação presidencial” para o cancelamento do pregão, logo depois que a grande imprensa divulgou o assunto.
Auxiliares de Temer dizem que a licitação foi estabelecida pela Secretaria de Governo e pelo Gabinete de Segurança Institucional, sem consulta a escalões superiores.
Pois é... 
A atitude mostra o distanciamento do "alto comissariado" da dura realidade do país.
Imaginando que o presidente não soubesse da lambança, assessores muito próximos sabiam e não tiveram o zelo de alertar.
Não estão sensíveis ao drama econômico que o país atravessa.
Não construíram "os jardins por dentro".
Como se vê, o singelo exemplo da pequena e bela cidade de Minas Gerais precisa chegar ao Planalto. 
Um inteligente sinal de partida válido para todos os níveis, em todos os tempos.
Que assim seja em 2017.
Feliz Ano Novo!!

Felicidade - Samba de Orfeu - Manhã de Carnaval
José Feliciano