Celso de Almeida Jr.
Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 23 de dezembro de 2000
O engenheiro civil Júlio César Mello e Souza perpetuou seu pensamento ao assinar as suas obras com o pseudônimo de Malba Tahan. Genial, marcou gerações de brasileiros, produzindo contos maravilhosos, transmitindo todo o seu conhecimento da encantadora cultura árabe. Professor, Júlio César também brilhou como matemático de exímio talento, tendo seus escritos recomendados até por mestres como Monteiro Lobato. "O homem que calculava", de Malba Tahan, merece presença em todos os lares, principalmente nas estantes da garotada pré-adolescente. De tudo o que li deste notável brasileiro, o que mais me encantou foi a mensagem final da lenda "Aprende a escrever na areia" que, nesta hora, acho conveniente publicar:
"Aprende a gravar na pedra os favores que receberes, os benefícios que te fizerem, as palavras de carinho, simpatia e estímulo que ouvires. Aprende, porém, a escrever na areia, as injúrias, as ingratidões, as perfídias e as ironias que te ferirem pela estrada agreste da vida. Estas, riscadas na areia, desaparecerão como um traço de espumas entre as ondas buliçosas do mar. Escreva na areia com um voto para que, se depressa se apagar e desaparecer, mais depressa ainda desapareça e se apague da tua lembrança!"
O triste é que na busca da grandeza da alma, o pensamento, às vezes, mostra-se traiçoeiro. Foi assim que enquanto escrevia estas linhas lembrei-me de todas as terríveis ações e artimanhas do governo Zizinho. Só quem sofreu o peso da calúnia, da ingratidão, do torpor e da perseguição entenderá as minhas palavras. No fundo, dedico este artigo para estas pessoas. Solidarizo-me, pois sofri na pele como elas. Vi os meus sonhos e os frutos do trabalho meu e de minha família empurrados para a beira de um precipício. Só a força indestrutível de verdadeiros amigos e a confiança inquebrantável conquistada com muitos anos de luta não nos deixou sucumbir. Ao contrário; num esforço gigantesco livramo-nos das calúnias proferidas por aqueles que desconheciam a nossa história. O tempo mostrou quem é quem. Mas, pergunto: Quantos tiveram a mesma sorte? Quantos contaram com mãos amigas na hora derradeira? Por isso, no jogo pesado da política, escrever na areia não é tarefa fácil. Mas, quando vivemos o último Natal do milênio, mais do que nunca precisamos aprender a perdoar. Assim, ao desejar votos de muita paz e felicidade, quero concluir reproduzindo aos amigos leitores - religiosos ou não - o aconselhamento de S. Paulo na sua admirável epístola aos Efésios:
"Toda a amargura, a ira, e coléra, e gritaria, e blasfêmias, e toda a malícia, seja tirada de entre vós. Antes, sêde, uns para com os outros, benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo. Sêde, pois, imitadores de Deus, como filhos amados."
PS: Confirmando o prometido, Paulo Ramos priorizou a técnica e a experiência na composição de seu secretariado. Cercou-se de gente tranquila, avessa à polêmica. Excelente sinal. Já era hora de um pouco de sossego. Mesmo consciente da função questionadora e crítica que devo exercer nesta coluna, não custa nada, neste momento de tantas expectativas, juntar a minha voz àqueles que venceram a eleição para reforçar a esperança de que iremos ver "Ubatuba sorrindo de novo." Que assim seja!!!
Oração de São Francisco de Assis
Joana