Celso de Almeida Jr.
Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 16 de junho de 2000
Vera Coutinho foi gentil em convidar-me para assistir a sua explanação, no diretório regional do PTB de São Paulo, em defesa da sua candidatura a prefeita. Descreveu a sua luta. Questionou a conduta deselegante do atual presidente do PTB do município, Marco Antônio Guimarães Leite, em relação ao seu projeto político. Naquele instante, lembrei-me de Nadim Kayat. Estive ao seu lado quando levou uma rasteira do mesmo Marco e perdeu, para ele e Eduardo César, o partido pelo qual tanto lutou. Nadim, aliás, dignificou o PTB. Disputou a prefeitura em 1988, ocupou um honroso terceiro lugar e colaborou para a eleição de três vereadores. Lembrei também do interessante episódio que vivi assim que assumi a Secretaria de Administração da Prefeitura, em 1997. No segundo mês do único trimestre em que "sobrevivi" secretário, recebi o convite do deputado Campos Machado para visitá-lo no gabinete da liderança petebista na Assembleia Legislativa quando me ofereceu o comando do partido. Declinei, explicando que eu ficaria satisfeito em ver a presidência novamente ocupada por Nadim Kayat e me ofereci para articular o seu retorno. Por eu ser amigo do Nadim e colega de infância de Marco criei a expectativa de reaproximar os dois. Sugeri ao deputado manter Marco presidente enquanto eu tentasse convencer Nadim. Convencer quem? Levei uma descompostura que irritou-me profundamente. Nadim criticou-me por ainda conversar e dar confiança a Marco Antônio, dizendo que só aceitaria o convite mediante a expulsão dele. Retruquei. Expliquei que esta intransigência e radicalismo, no final, o prejudicava. E mais: pedi que perdoasse os equívocos de Marco. Sua resposta? "Celso, sou quarenta anos mais velho do que você. Hoje, não me compreende. Amanhã, talvez." Terminamos o papo com um cafezinho gostoso da D. Darci.
O tempo passou, Nadim faleceu e, ao final de 1998, Marco procurou-me para auxiliá-lo a reestruturar o partido. Novamente, outra visita a Campos Machado que insistiu na filiação de novos nomes e na busca de novas lideranças. Marco sugeriu batizar a chapa ao diretório de "Dr. Nadim Kayat". Na época, pareceu sincero. Hoje, percebi o cinismo. Meu nome ficou a disposição do partido e fui "premiado" com a função de tesoureiro da Comissão Executiva. Conversei com algumas lideranças e filiei Vera Coutinho, na presença de Marco Antônio. Vera posicionou-se como pré-candidata a prefeita e teve nosso sinal verde para sair a luta.
O resto da história todos sabem. Marco não valorizou a candidatura própria, cerceou seu direito de divulgar suas propostas junto aos convencionais, coligou com Paulo Ramos, anulando a possibilidade real de prestigiar novas lideranças e oferecer uma nova opção ao eleitorado. Só restou a Vera buscar apoio no diretório regional. E após ouvirem sua competente e firme defesa, emitiram a decisão: a maioria considerou prudente, a esta altura, não interferir no PTB de Ubatuba. O posicionamento do colegiado estadual baseou-se em minucioso relatório do conceituado articulador petebista, o professor Carlos Alberto Thadeo. Este sugeriu à Vera uma decisão que permitisse a unidade partidária. Confesso que fiquei bem impressionado com as discussões que o caso gerou contando com importantes considerações desde antigos líderes até o presidente da juventude trabalhista. O PTB de Ubatuba precisa se espelhar no PTB de São Paulo. Lá, conferi: o debate é democrático e de alto nível. Naquele instante, ao perder a última oportunidade de sair candidata a prefeita, Vera Coutinho mostrou sua incrível disposição em trilhar a carreira política. Questionada se aceitaria disputar uma vaga de vereadora respondeu que a humildade e as cirscuntâncias mandavam ela aceitar este desafio. Este gesto despertou a simpatia das lideranças que lhe prometeram total apoio. Quero declarar. Votarei em Vera Coutinho para vereadora. Ela tem bom senso e toda a energia para dignificar o partido em Ubatuba. Deixo, porém, o atual diretório petebista. É a forma de encerrar definitivamente meu vínculo com Marco Antônio. Já o auxiliei bastante. Vi como joga. Como se expressa. Já basta. Além do mais, o leitor deverá concordar: devo esta atitude à memória de Nadim Kayat. De algum lugar ele verá que, apesar da demora, aprendi a importância de seguir a voz da experiência.
Argumento
Paulinho da Viola