Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 30 de junho de 2000
Não consigo profetizar.
Não é, também, o que eu quero.
Minha procura é tentar errar menos.
Não sou o papai sabe tudo.
Já tropecei bastante.
A vida, porém, empurra para frente.
E, para quem quer ser ouvido, o medo da sinceridade precisa perder o jogo para o gosto do desabafo.
O drama é que a verdade gera o ódio e, a complacência, amigos e amigos.
Aos que apreciam o meu estilo e não querem me ver numa fria, tranquilizo: não serei odiado. Afinal, não sou o dono da verdade.
Mas, concordar com tudo e com todos não combina comigo.
Se você não joga no meu time pegue o automóvel e visite a cidade inteira.
Aperte o controle elétrico do vidro e ponha a cara para fora.
Veja. Sinta.
Antes de voltar para casa, passe na delegacia. Pergunte em que condições trabalha a nossa polícia civil e peça uma listagem das ocorrências dos últimos meses. Para completar, vá até o batalhão da polícia militar. Confira o efetivo; o armamento disponível e conclua se dá para garantir segurança com a estrutura atual. Detalhe: não deixe o pensamento ser ofuscado pelo brilho das novas viaturas.
Sobrou tempo? Vá à avenida Iperoig.
Compre um sorvete. Olhe o movimento. Repare meninos e meninas perambulando. Um deles já lhe abordou perguntando se pode cuidar de seu amado carrinho. É a juventude ubatubense. É o amanhã lhe pedindo esmolas.
Você ainda vai dar graças aos céus por conseguir oferecer uma vida digna aos seus filhotes. É? Não temos cinema, teatro, bailes para famílias ou qualquer outra iniciativa que permita um congraçamento social agradável aos jovens. Muita gente dirá: mas existem as igrejas que confortam e garantem equilíbrio espiritual. Maravilha. Mas, certamente, Ele não vai ficar chateado se criarmos mais opções aos nossos filhos. Coisas decentes. Não sexódromos, drogódromos, pingódromos e outros bichos.
Ah! Espere aí! As escolas garantem a formação da tchurma. É mesmo? Passe um dia numa delas. Esqueça um pouco a rede particular que atende a minoria. Falo da maioria. Gente com direitos e deveres, igualzinho a todo mundo. Vá lá. Veja o professorado de olhos fundos, a secretaria entupida de papéis, a garotada vulnerável aos "amiguinhos" da pesada e a disciplina ausente. Consulte a direção. Pergunte quantos pais se oferecem para voluntários da escola, aquela babaquice Global que prega um mundo maravilhoso onde as pessoas são como personagens de novela: não trabalham, estão sempre descansadas e prontas para ajudar a humanidade.
Os governos arrancam nosso dinheiro, torram sem cerimônia e ainda querem que, aos finais de semana, cada um dos otários nacionais pegue uma broxa e vá pintar a parede da escola da esquina. Bem branquinha, para os desajustados sem controle picharem no dia seguinte: "Antes de mim, um trouxa esteve aqui."
Agora, cá entre nós. Bem baixinho pois quem escutar pode nos tachar de inimigos da democracia, fascistas, reacionários ou comunas perigosos. Responda rapidinho: deu ou não deu motivo para levar pedrada e cadeirada na Praça da República?
É esta insensibilidade que irrita quem pensa.
Liquidam a escola pública e culpam os professores. Promovem a garotada automaticamente gerando espertões mirins: "Estudar? Não preciso. Vou passar de qualquer jeito!" E está criado o sistema Burraldo de ensino. É o mínimo esforço a serviço da imbecilidade da nação. Produzimos analfabetos em série com diploma oficial. Não sabem ler nem escrever, mas tudo bem. Nada como várias cabeças ocas, prontinhas para serem recheadas de idiotices: Vote no Salvador da Pátria. Vote no Reizinho da Praia. Vote e volte à rotina, vá cuidar da vida e não se atreva a questionar os eleitos. Eles ficam irritadiços; são injustiçados, coitados.
Assim, não é preciso ser Nostradamus para prever o futuro.
Estamos criando um povo despreparado, fácil de manobrar, vulnerável aos apelos da mídia e perigosamente exposto a ditadores de plantão.
É preciso despertar e atuar, de olhos sempre abertos, nas ações políticas da cidade.
Concorda?
Então, vamos lá! Mostre a cara, escolha seus candidatos e participe.
Erre e acerte, mas exponha seu pensamento e dê ao voto o respeito que ele merece.
Ubatuba precisa e - posso prever - seus filhos e netos irão lhe agradecer.
PS: Jija, vice do Zizinho, equilibrou a eleição. Ele é bom de briga. Já não é tão certo o naufrágio do prefeito. EsSa bóia, é jóia.
Eduardo Dussek