Celso de Almeida Jr.
Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 13 de maio de 2000
Se o Tião Gavião fosse adversário político do Zizinho, nesta Corrida Maluca, certamente, hoje, pronunciaria: Raios! Raios triplos! Seria uma compreensível reação ao retorno de Euclides Vigneron à prefeitura, após a fatídica canetada de um ministro do STJ.
Não vou insistir nessa comparação pois, afinal, quem escreve não é partidário de Euclides, o insistente. Numa dessas, poderiam associar-me ao Tião Gavião e eu não gostaria. Esse personagem de desenho animado era malvado. E pior ainda: persegue a inocente e bondosa Penélope Charmosa que, também, não se assemelha ao Zizinho. Portanto, é melhor parar por aqui.
Mas, mesmo começando o artigo ainda perplexo com a decisão do ministro Franciulli Netto, tento organizar o pensamento para conseguir expressar, com clareza, o que eu sinto. Para tanto, precisarei recorrer a uma piada.
Um Papa, já falecido, solicitou uma audiência a São Pedro, que o atendeu prontamente.
Explicou ao Santo que, apesar de ter aprendido a controlar sentimentos menores como a inveja e o ciúme, estava um pouco surpreso com o tratamento preferencial que um hóspede celestial estava tendo.
Referia-se a um cidadão que, na terra, tinha sido um brilhante advogado.
Hoje, no céu, era tratado a pão-de-ló, cercado de gentilezas, paparicado por anjos e reverenciado por todos os Santos.
A explicação de São Pedro foi franca, como sempre.
Disse que, no céu, Papas existem muitos. Mas, quanto aos advogados, até agora, só tinha aquele.
Assunto encerrado.
Essa piadinha, conhecida dos advogados vivos, naturalmente é exagerada. Eu, particularmente, acredito que no céu deva existir mais uma meia dúzia destes habilidosos profissionais. E, por falar em habilidade, o advogado de Zizinho, o bom Rollo, mostrou honrar o sobrenome.
Seu saber jurídico, seu profundo relacionamento com os zeladores das leis brasileiras mostram, aos mais jovens, que esta profissão vale a pena. Especializar-se em legislação eleitoral, então, nem se fala. É lucro garantido. Honorários gordos. Clientela poderosa. Casos para todos os gostos.
Por outro lado, para aqueles que não optarem por Direito, fica a impressão de que, neste país, tudo é possível. Matar, roubar, enganar, tapear e mentir são pecados perfeitamente contornáveis. Não abalam a vida do pecador. Desde que, naturalmente, tenha dinheiro para contratar um bom advogado.
Francamente, Franciulli. A frieza do papel e o vacilo em não considerar que três desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo haviam afastado Zizinho - por perceberem muita fumaça nesta história - provam as comprometedoras divergências das cabeças dos juizes. Para nós, cidadãos, o Judiciário mostra que a fachada moral e legal que estampa este país esconde uma realidade que assemelha-se ao velho oeste americano, aonde o revólver na cinta falava mais alto. Mas, esta prática, ficou para o nosso povão. Para elite, o coldre, a pistola e as balas foram substituídos pela carteira, a caneta e o talão de cheques. E salve-se quem puder.
Não temos mais tempo.
É fundamental, necessário, e urgente desenvolver o senso crítico no cidadão brasileiro. Nossa brava gente não enxerga que suas agruras, sua pobreza, seu abandono não é o resultado de sua incompetência. Quantos amigos queridos, talentosos e sérios viram seus empreendimentos e negócios desmoronarem e falirem enquanto, inocentes, culpavam a si próprios? Buscavam explicações numa possível inexperiência. Acreditaram não ter competência para estabelecerem-se. Aceitaram a crítica mordaz de parentes pelo naufrágio comercial e a implosão da família, jogando a auto-estima nas profundezas do oceano. Sonharam que a Justiça é imparcial e que ela prevalece sempre. Engoliram o discurso confuso de economistas vivaldinos que endossam a agiotagem oficial, apadrinhando banqueiros, empresários, corruptores e gangsters disfarçados de políticos. Não perceberam que a tragédia, na maioria das vezes, veio pela incapacidade dos homens públicos em tornar a sociedade organizada, o território atrativo e administrado com honestidade e sensibilidade. Somos, infelizmente, o retrato 3x4 de um país comandado por gente inescrupulosa, cínica e irresponsável.
Não há outro caminho.
Cabe as pessoas de bem, esclarecidas e sérias abrir os olhos daqueles que dormem para, na hora do voto, tentar corrigir o rumo.
Quem tiver consciência desta crise, invisível aos inocentes, tem o dever cívico de pregar a mudança.
Democraticamente, lute.
Acorda Maria Bonita
Volta Seca