Celso de Almeida Jr.
Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 11 de março de 2000
A alergia que o munícipe tem da política foi gerada, provavelmente, pela sequencia de atos irresponsáveis de políticos picaretas. Isso causou um efeito anestésico no eleitorado. Assim, nada mais machuca, nada mais incomoda. Foram muitas frustrações que provocaram esse comportamento. Portanto, ganhar a confiança de quem vota será tarefa das mais difíceis.
Essa é a provável explicação para a nula reação às gravíssimas denúncias formuladas pela ADC-Associação em Defesa da Cidadania, representada pelo determinado e corajoso José Carlos da Silva.
A ADC enviou à Câmara documentação detalhada sobre irregularidade séria, cometida por Zizinho & Trupe, na suspeitíssima obra da escola do Rio Escuro.
A Câmara rejeitou a denúncia mostrando, mais uma vez, que tem caroço nesse angu.
O jogo imundo dos bastidores da política ubatubense só será encerrado à base de muita creolina. Talvez, até, incinerando as sobras podres da alta cúpula do poder.
Acontece que varrer tanta sujeira não é tarefa apenas para grupos políticos saneados. É missão para o cidadão, para o eleitor que precisará, deverá, necessitará canalizar sua indignação para as urnas.
O grave, porém, é que a consciência do caos parece estar em poucas cabeças. Sinto isso ao ver o comportamento de certos formadores de opinião. Aquele pessoal que já não alcança mais mortadela mas que jura estar beliscando presunto. É impressionante a facilidade com que bajulam quem está no trono. Vivem na dureza. São, como nós, vítimas desses governos ridículos. Passam necessidades terríveis. Sabem que seus filhos também comerão grama. Mas mantêm o estilo capachão, mostrando que quanto mais explorados e humilhados, melhor. Para essa gente, Zizinho era o máximo, mesmo sendo o mínimo. Até Patrício, o breve, teve seus momentos de glória, rapidamente transferidos para Andrade, o caiador.
Aliás, por falar em caiação, nossa situação é tão crítica que pintura de guias, varrição e capinação viraram manchetes de primeira página.
A sensação é de que vivemos num quarto escuro. Nosso povo precisa apenas de uma frestinha na janela para enxergar o quanto estamos atrasados e que paparicar político é coisa de quem não tem auto-estima ou está comendo no mesmo cocho.
Respeitar autoridade é princípio básico de povo educado. Tenho educação. Mas não perco a oportunidade de divulgar a frase: "Só seremos respeitados se nos fizermos respeitar."
A esperança está nas mãos de quem pensa e não desiste; se der o troco na eleição terá contribuído bastante, mas é preciso mais do que isso.
É necessário falar. É fundamental reclamar. É indispensável não se intimidar e fazer a nossa voz trincar os tímpanos dessa gente que se faz de surda mas escuta muito bem o tilintar das moedas.
Não devemos temer. Nosso compromisso é com nossos filhos e com o nosso futuro. O silêncio presente faz pensar que concordamos, que aceitamos, que entregamos os pontos.
Negativo! Quando o som da guitarra não se faz ouvir, troca-se o amplificador.
Considerando que os amplificadores de nossas angústias deveriam ser os políticos, recomendo a total renovação do equipamento somada a compra de uma bateria barulhenta.
O amanhã agradece.
Apesar de Você
Chico Buarque
Chico Buarque e MPB4