12.3.11

Esperando o bom velhinho

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 22 de janeiro de 2000


As mudanças na prefeitura, logo após a posse de Andrade, foram as boas novas deste início de ano. O novo prefeito foi fiel ao seu partido. Alterou o secretariado buscando conciliar forças políticas. Se Nadim Kayat estivesse vivo certamente escreveria que estaríamos assistindo ao embrião da união de forças que ele tanto pregou. Aliás, esta foi a base da campanha Novos Caminhos, que teve tudo certo, menos o candidato a prefeito. Erro fatal.
Hoje, não há a menor dúvida de que o governo atual está centrado numa estratégia política pró Paulo Ramos, porém, lançando mão de ideias que ajudaram a eleger Zizinho. Até aí, tudo bem. Qual é o problema? Andrade é PFL e não é candidato a prefeito em 2000. Paulo Ramos é PFL e é candidato. Logo, fazem o jogo que interessa ao partido. Só o Zizinho para imaginar que seus homens de confiança continuariam no governo. Aliás, vergonhosa a carta do secretariado Euclidiano colocando-se a disposição de Andrade para continuar na prefeitura. Zizinho não deveria expor seu time a este constrangimento. Não mereciam ter que assinar uma cartinha de manutenção. O correto, o lógico, o sensato, o normal seria entregar o cargo simultaneamente ao afastamento do chefe. Por essas e por outras acredito que essa gente não sentirá saudade do Zizinho. Talvez, só do salário. Mas Andrade, atento à união de forças, manteve alguns nomes que se destacaram. E completou a equipe com diversos pesos pesados.
Ao posicionar o Dr. Vicente Plagliuso nos assuntos jurídicos, arrumou um problemão para Marcelo Mourão, o ex-chefe da procuradoria. Se Mourão andou na linha, está tendo um sono tranquilo. Caso contrário, se conheço o Dr. Pagliuso, a cobra vai fumar! Aliás, certo mesmo é fazer um grande inventário do triênio de Euclides. Provavelmente entrará para a história como o mais arrogante, o mais atrapalhado e o menos político dos governos ubatubenses dos últimos anos. Mas, uma detalhada análise burocrática, conferindo processos, documentos, despachos e licitações poderá revelar mais do que falta de competência. Por isso, turbinar o rolo compressor do Dr. Vicente foi decisão arrojada. Só um detalhe: ele destroça quem estiver na frente, inclusive, se preciso, o próprio chefe. Sai de baixo!
Também o funcionalismo público respirou aliviado. Ao definir Lourenço e Luizinho como a dobradinha Receita-Finanças, Andrade valorizou a experiência.
Lourenço conhece a máquina de longa data. Defini-lo como professor não é exagero. Sintonizado a Luizinho regularizará o pagamento dos funcionários e dos fornecedores. Neste instante estou ansioso pelo levantamento que a dupla já está fazendo. Publicar o balanço da herança recebida poderá confirmar a suspeita de que o caixa estava gordo e seria torrado no final. Justamente no ano eleitoral. Seria a clássica jogada que aposta na memória curta do povão e derrama obras e alegrias nas vésperas do pleito. Vamos aguardar.
Quente mesmo foi o convite ao professor Corsino Aliste para a Secretaria de Educação. Ao criticá-lo por ter aceitado, Zizinho provou que não aprende. Qualquer adversário inteligente do professor deveria torcer para que ele exercesse uma função como essa. Por quê? Porque Corsino tem um senso crítico aguçado. Suas palavras costumam ser ardidas. Seus desafetos foram conquistados via retórica fulminante. Assumindo a secretaria precisará mostrar se é capaz de melhorar a pasta com as ideias e métodos que sempre pregou. É uma prova de fogo. Por isso, ao aceitar o convite, demonstrou coragem e não oportunismo. Vi no gesto do mestre de Organização Social e Política do Brasil, de quem tive a satisfação de ser aluno, a esperança de melhorar a Educação Municipal. Com qualquer resultado, certamente, teremos uma conduta pautada na legalidade. Sem dúvida, é merecedor de respeito e confiança. Sua inteligência, que naturalmente reflete as raízes espanholas, caminhará inseparável de seu coração brasileiro.
Por enquanto, destaco essas mudanças. Há muita lenha ainda para queimar. O que não devo é colocar gasolina na fogueira. Por isso, apesar de conhecer os defeitos do novo alto comando, tenho que evidenciar os aspectos positivos. Andrade tem uma oportunidade preciosa nas mãos e parece estar consciente disso. Se fizer o feijão com arroz, temperado com serenidade, dará uma grande contribuição ao município. Não posso deixar de registrar porém, que há muitos anos, mesmo sofrendo um pouco, tomei consciência de um fato que acabou auxiliando-me nos pensamentos sobre política. Papai Noel não existe.

Quem é do mar não enjoa
Martinho da Vila