12.3.11

Altíssima pressão

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 29 de janeiro de 2000


Em fevereiro, não tem carnaval. Mas há promessa de folia na política da cidade. Percebe-se um compasso de espera. Tudo indica que o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, confirmará que Euclides, o Zizinho, deverá permanecer no gancho até o julgamento de seu caso. Dessa forma, não reassumirá a prefeitura. Que assim seja. Amém!
O caso dos dez vereadores também deverá ser solucionado. Está nas mãos do Tribunal de Justiça, em São Paulo. Se forem afastados, teremos nova revolução com o surgimento da figura do quarto prefeito. Este, nasceria da escolha dos suplentes de vereador que, ao definirem o novo presidente da Câmara, automaticamente lhe dariam a chefia do poder executivo. Ou, nessas circunstâncias, teríamos um quadro que permitiria uma intervenção no município? Sobre esse assunto, passo a bola aos advogados especialistas que poderão esclarecer o que as nossas leis prevêem em casos tão atípicos.
O que eu quero é me concentrar nos desdobramentos políticos. Vamos imaginar que os dez vereadores, dos quais um é o prefeito, recebam cartão vermelho. Andrade entregaria o boné mas teria deixado, no período em que chefiou a prefeitura, uma imagem positiva. Seu breve comando, preocupado em ser politicamente correto, reforçaria a ideia divulgada por seu partido de que a equipe ligada a Paulo Ramos sabe governar com harmonia. Sendo Andrade, Paulo Ramos e PFL um time só, o prefeito de Janeiro já teria conquistado alguns pontos para a campanha pefelista.
Mas, se Euclides não voltar e os atuais vereadores continuarem, Andrade marchará no comando até o fim. Aí, terá que enfrentar uma forte turbulência que já começa a ser notada: a sede da base eleitoral. O leitor que já conhece a prática política sabe do que eu estou falando. Os iniciantes merecem uma explicação. Refiro-me ao mais terrível jogo de interesses: a conquista de cargos. Já dá para perceber a pressão que Andrade, Paulo Ramos e o presidente do PFL, o Engº Roberto Rezende começam a sofrer. Existem na prefeitura, aproximadamente, 300 cargos em comissão. São os chamados cargos de confiança. Todo prefeito acaba confiando estas funções aos insistentes simpatizantes mais próximos que, infelizmente, na maioria das vezes, não têm o menor preparo para encarar tal responsabilidade. Mas, ofuscados pela amarga ignorância, batem no peito, se auto-valorizando e relacionando suas duvidosas qualidades para exercerem a nobre tarefa. No fundo, são impulsionados pelo desespero de abraçar o salário salvador, que alimentará a família, vítima de uma cidade carente de empregos e de oportunidades. Para aqueles que já sofreram na vida, já passaram por dificuldades, já sentiram na pele o drama que é contar moedas para garantir o pão de cada dia, os meus comentários podem parecer arrogantes e insensíveis. Mas, pergunto: é justo a prefeitura ser a tábua de salvação para a cupinchada política? Não seria mais sensato preencher os cargos de comando com funcionários que trilham carreira no serviço público? Que estímulo essa gente tem quando se vê chefiada em sua seção, em seu setor, por alguma pessoa cujo maior mérito é ser cabo eleitoral do jogo político do prefeito?
Por isso, o drama que a cúpula do PFL enfrentará, caso Andrade continue, já está traçado: a gula por uma fatia do bolo poderá trincar a base de apoio a Paulo Ramos.
Esse "é dando que se recebe" quando não cumprido, cria desafetos raivosos. Um vereador descontente pois um parente não foi encaixado; uma liderança ressentida por não pegar a boquinha; um figurão ofendido por nem ser lembrado, são os adversários gratuitos que todo prefeito acaba conquistando. Mas, num ano eleitoral, estas mágoas são propositalmente exploradas por opositores políticos. E aí começa o tiroteio, o jogo de interesses, o "toma lá, dá cá". O que sabemos, com certeza absoluta, é que enquanto caminharmos com este estilo de fazer política, continuaremos sustentando uma máquina de fazer compadres, sócios, afilhados e submissos.
Isso tem conserto. É preciso, para tanto, coragem para travar a farra. Um basta ao loteamento de cargos poderá, num primeiro momento, significar a fragmentação da base de apoio. Mas uma análise posterior revelará a satisfação do eleitorado em ter um governo forte, que não se curva a interesses individuais. Em março, em pleno carnaval, já saberemos se a turma da alta pressão estará em risos e alegrias, enquanto nós integraremos os mais de mil palhaços no salão.

Máscara Negra
Zé Keti e Pereira Matos
Vania Abreu e Marcelo Quintanilha