24.1.11

Primeira Pedra

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 08 de outubro de 1999

É possível que muitos leitores estejam há pouco tempo na cidade.
Talvez, ainda não tenham tido a oportunidade de conhecer o dia-a-dia e o quem é quem da política ubatubense.
Por isso, peço paciência aos escolados.
Vou detalhar ao máximo, sempre procurando informar aos novos o quanto os mais antigos já sabem.
Drª Dilei já foi secretária de saúde.
Também já foi vice-prefeita.
Na última eleição, foi candidata a prefeita, perdendo para Zizinho Vigneron.
Há alguns meses, Dilei vem integrando uma frente política liderada por Nélio de Carvalho.
Nélio é PSDB e já foi prefeito por duas gestões.
Dilei é PSC e vem sendo apresentada como provável candidata a vice-prefeita em chapa encabeçada por Nélio.
Conheço Dilei há muitos anos.
Graças a ela tive que administrar um problema doméstico.
Minha mulher, Patrícia, sempre pegou no meu pé por eu nunca estar alinhado politicamente com Dilei.
Para piorar, ao invés da doutora, apoiei o Zizinho em 1996, forçando a Patrícia a vestir minha camisa. 
Hoje, recomendo aos apreciadores de política: ouçam suas mulheres.
Elas são infalíveis.
Mas, apesar de estar em campo oposto, o relacionamento com Dilei durante a campanha foi mutuamente respeitoso.
Afinal, eu sempre soube com quem estava lidando.
Dilei vem de uma família admirável.
Quem tem a oportunidade de conviver com eles sabe do que eu estou falando.
Bom humor, espírito crítico, inteligência, integridade e muita humanidade caracterizam Dilei e seus familiares.
Este patrimônio não se penhora, não se cassa, não se perde.
Daí a certeza de que a decisão judicial suspendendo-a do exercício de funções públicas será corrigida em instâncias superiores.
Também é bom reforçar que o recurso contra tal medida já permite a sua candidatura e a continuidade de suas atividades como médica da prefeitura.
É o que está ocorrendo.
Considerando esses fatores, após consultar o diretório municipal, procurei Drª Dilei para convidá-la a filiar-se ao PTB de Ubatuba.
A estratégia seria a seguinte: ao unir a organização e a equipe do PTB ao potencial de votos da Drª Dilei estaríamos preparando o alicerce para a união de forças políticas, tarefa que herdamos de Nadim Kayat.
Na ocasião argumentei que ao já definir-se como provável vice de Nélio, estando filiada num partido ainda pouco estruturado como o PSC, ela neutralizaria diversas alternativas.
Explico: não houve tempo hábil para o PSC filiar um grande número de possíveis candidatos a vereador.
Assim, se existisse algum desentendimento entre Nélio e Dilei, ao longo da campanha, ela ficaria sem a possibilidade de tentar o Plano B que seria disputar uma vaga de vereadora, cargo honroso, que aliás precisa de nomes sérios como o dela.
Dilei, candidata a vereadora, numa legenda estruturada, garantiria além de sua vaga, mais uma ou duas cadeiras ao mesmo partido.
No PTB, isso já ocorreria.
No PSC, ainda não.
Além disso, a aliança de Dilei com declarados opositores ao governo Zizinho enterraria de vez a Teoria da Conspiração.
Você já ouviu falar disso?
Esta tese diz que Nélio quis Dilei como vice para tirá-la do páreo de uma possível candidatura própria ou de uma junção com Paulo Ramos, seu adversário direto.
Em seguida, ele daria uma "banana" à Dilei e casaria com Zizinho, apoiando-o discretamente.
Porém, conheço o Dr. Nélio.
Tenho acompanhado sua campanha de perto.
O PTB tem, inclusive, representantes atuando como elementos de ligação ao PSDB para discutir projetos comuns e verificar a possibilidade de composição.
Sei que uma das virtudes do ex-prefeito é sua sensibilidade política.
Ele sabe que embarcar numa caravela comandada por Zizinho é certeza de naufrágio.
Logo, não creio na Teoria da Conspiração.
Mas, até para acabar com esta história e ajudá-la a marcar uma posição à altura de seu eleitorado, tentei o último argumento para convencê-la.
Disse que no PTB ela teria estrutura suficiente até para candidatar-se à prefeita.
Essa estratégia deixaria Dilei em pé de igualdade com os demais candidatos, independentemente da provável aliança que pretenda fazer com Nélio.
Ela tem credibilidade para isso.
Naturalmente, tudo seria decidido em convenção pois o partido já conta com pré-candidatos a prefeito.
Mas, sem dúvida, até as convenções, as possibilidades para Dilei seriam diversas, valorizando ao máximo o seu nome, a sua equipe, os seus projetos e o partido.
Ela pensou, agradeceu, mas não topou.
Colaborou para a negativa este lamentável episódio da cassação.
Mas, apesar de acreditar que ela perdeu uma grande oportunidade, nossas conversações não estão comprometidas.
Não desistimos de buscar a união de forças em benefício da cidade.
Todavia, como já sugeri, excluo desse projeto o prefeito atual.
Ele precisa de férias.
Nós merecemos sossego.
Não há chance de união com as atitudes que ele toma.
O máximo dos máximos foi a Justiça estilingar Dilei e Paulo Ramos com a primeira pedra lançada por Zizinho.
Ele está credenciado para atirá-la?
O tempo responderá aos iniciantes.
Para os escolados, porém, a resposta já é conhecida.

Atire a Primeira Pedra
Ataulfo Alves e Mário Lago
Orlando Silva