Publicado no Blog Ubatuba Víbora
Coluna do Celsinho
22 de março de 2013
A filha pediu fotos dos avós.
Cumprindo uma atividade escolar, montará uma árvore genealógica.
Lembrei de uma história da família.
Em 7 de setembro de 1887, do convés do Malange, vapor da Mala Real Inglesa, algumas meninas ouviam a queima de fogos e o som de fanfarras no Rio de Janeiro.
Graciosamente inocentes, pensavam que tratava-se de recepção especial.
Em verdade, eram as festas pelo 65º aniversário da Independência e a cidade mal dava conta dos que chegavam da Europa.
No desembarque, o pai das garotinhas apresentou o passaporte.
Uma folha grande, onde se lia que Lourenço Marques de Almeida, esposa e filhas estavam autorizados a seguir para o Brasil.
Vinham da cidade do Porto, Portugal.
No Rio de Janeiro, começando a vida no Novo Mundo, Lourenço montou uma livraria, na rua do Ouvidor.
Deixou para os descendentes um "Livro Particular", diário que até hoje é guardado com carinho especial.
Algumas passagens, citadas a seguir, sempre recordamos, com certa comoção:
"Abençoados os pensamentos que sempre tive de ser bom e útil. Pelo esforço de meu trabalho, tenho conseguido sustentar minha família...Quando um dia, havendo eu deixado de existir, os meus filhos folhearem este livro, devem sentir-se animados da mesma satisfação que agora me anima ao pensar e cuidar assim deles. E minha mulher, essa querida e boa esposa que Deus me deu para complemento da minha felicidade, abençoada por mim como o é sempre, abençoará também a extrema felicidade que vai na alma."
Suas últimas palavras registradas:
"Eu não aspiro a ser muito rico. A minha ambição limita-se a desejar obter, por meio do trabalho, conforto, tranquilidade e segurança para minha família."
Nem dois anos após a chegada ao Brasil, Lourenço adoeceu, vindo a falecer em março de 1889.
Georgina, sua esposa querida, ficou viúva, com 6 meninas em um país estranho.
Alheia aos negócios, teve que se desfazer da livraria.
A vida seguiu...
Hoje, seus descendentes espalham-se Brasil afora.
No pensamento, a lembrança do pioneiro, com a certeza de que nos deixou a melhor herança.
Pais e filhos