11.2.12

Lerdeza adquirida

Celso de Almeida Jr.


Publicado no blog Ubatuba Víbora
Coluna da Sexta-Feira
19 de Dezembro de 2008


Um estudante me perguntou se eu usava ou usei drogas.
Imediatamente respondi que não.
Fui sincero, mas, refletindo posteriormente, concluí que uma antiga experiência poderia alterar a minha afirmação.
Na puberdade, eu lavava peças na oficina mecânica de meu pai.
Num tacho de cobre, com muita gasolina, eu vivia debruçado com um pincel e uma lâmina inoxidável para raspar a sujeira mais grossa.
Patins e cilindros de freio; engrenagens; componentes da suspensão; parafusos; cabeçotes, enfim, as mais diversas partes de um automóvel contavam com o meu capricho.
Algumas mereciam tratamento especial.
O carburador, por exemplo, excluído dos carros modernos, era lavado somente com Thinner Audi, marca de um solvente poderoso.
Assim, convenhamos, passar uma hora por dia aspirando destilados de petróleo deve ter causado algum estrago nos meus miolos.
Lembro que, naqueles tempos, o venenoso chumbo tetraetila turbinava a gasolina que, sem o temperinho do álcool, proporcionava aquele ronco inesquecível dos motores V-8 do Dodge Dart e do Maverick.
Não sei quais sequelas ficaram, mas, desconfio, algum preço minha saúde vai pagar na velhice que se aproxima.
No dia seguinte, comentei com o aluno esta lembrança.
Sarcástico, ele avaliou que as 24 horas necessárias para eu lhe dar a verdadeira resposta já representava o estrago que colhi naquele tacho.
Resignado, concordei e concluímos que algumas drogas cobram a fatura em curto prazo.
Outras, matreiras, apresentam a conta quando você menos espera.
Combinamos uma campanha esclarecedora sobre este flagelo no próximo ano letivo.
Escolhemos as bebidas alcoólicas como foco da primeira exposição.
Afinal, assim como a gasolina que me tonteava, as bebidinhas não despertam muito temor nos adultos, apesar de corroerem muitos jovens, podendo induzi-los ao alcoolismo.
Vamos ver a reação da garotada.
Tenho a inabalável certeza de que a juventude de hoje garantirá um futuro melhor para a humanidade.
Ela é franca, direta e honesta.
Ao tratá-la da mesma forma, encontramos a abertura para auxiliá-la nas difíceis questões que a vida traz.

Mato Queimado
Exporta Samba