6.11.11

Todos por um

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 20 de janeiro de 2001


É razoável crer na boa intenção dos vereadores. Cada um traz no currículo certa contribuição para a cidade, gerando empregos, confortando pessoas ou divulgando ideias junto aos ubatubenses. Não parece, também, que busquem apenas o salário e a possibilidade de nomear assessores. Todos gozam de certa independência financeira e já perceberam que, num descuido, gastarão a mesada legislativa com favorzinhos aqui, socorrinhos ali, no velho e nefasto assistencialismo que tanto agrada ao povão pidão. O que dá para perceber é a insegurança da maior parte da turma:
Estou eleito; faço o que?
Serei amiguinho do prefeito? Vou bater e malhar até cansar? Treinarei discursos? Deverei me candidatar a deputado?
Ou a prefeito? Afinal, 2004 está aí...
Tudo bem! Todo início gera entusiasmo exagerado. Faz até lembrar as semanas iniciais de qualquer escola: tudo novinho, tudo arrumadinho, promessa de ser bonzinho, bem comportadinho, certinho, certinho. Depois...
Superado o deslumbramento, os vereadores começam a dar conta de uma boa notícia. A Câmara de Ubatuba tem um eficiente corpo técnico. Secretaria, Contabilidade e Jurídico garantem muita tranquilidade pois são departamentos constituídos por especialistas equilibrados, experimentados e competentes o suficiente para fazer a casa funcionar bem. Além disso, procuram orientar e treinar os legisladores para um bom andamento das sessões e dos trâmites burocráticos. Com tudo isso, neste aspecto, não há muito esforço a fazer. Logo, resta ao vereador construir a sua imagem junto a opinião pública e ao eleitorado.
Muitos, gulosos, concentrarão suas energias na distribuição de favores. Não compreendem que tais atitudes atrasam a libertação de nosso povo. Não estão nem aí. Farão de tudo para manter o status e alçar novos voos, às custas do toma lá, dá cá. Outros, medrosos, assumirão o papel de capachos. Estarão sempre de joelhos, pedindo e concedendo ao prefeito todo tipo de molezinha; cada um sonhando em ocupar aquela cadeira macia e praticar a mesma estratégia de salvar a pele dos mais próximos para ser querido, admirado e viver cercado de amiguinhos - da onça - naturalmente.
Outros, autênticos, cumprirão o seu papel; estudarão as suas obrigações; consultarão especialistas; exigirão respostas e informações do prefeito, sabendo tratá-lo com respeito e cordialidade, sem ser usado e manipulado. Estes não irão se corromper. Saberão valorizar a confiança de seus eleitores. E se destacarão. E colherão bons frutos. E irão registrar seus nomes na boa política ubatubense.
Hoje, alimento a sincera expectativa que, neste mês inicial, nossos vereadores reflitam sobre os primeiros - e naturais - tropeços. É a oportunidade para projetarem as próximas ações numa linha que evidencie autonomia, firmeza, busca incansável da transparência e, principalmente, que não se deixem transformar em inocentes úteis a serviço de interesses diversificados. A cidade, atenta, agradecerá e reconhecerá não apenas a boa intenção mas a real capacidade em fazer valer o respeito ao cidadão e ao patrimônio público.

PS: O difícil momento vivido pelo governador Mário Covas, que enfrenta o câncer com admirável coragem, revela, mais uma vez, o homem de fibra que é. Mas a tragédia também traz uma mensagem aos políticos: o cargo público - que já é transitório pelo próprio limite do mandato - expõe, em situações como esta, a certeza de que cada dia no poder deve ser valorizado com ações e condutas dignas e honestas. Esta é a herança que o povo merece. Disso, Mário Covas pode se orgulhar. E, por isso, conta com o respeito e as orações de gente de todas as partes de São Paulo e do Brasil. Com sua garra, o governador honrará até o fim a tentativa de fazer valer o lema dos paulistas: "Não sou conduzido. Conduzo."

Todos Juntos
Chico Buarque
Lucinha Lins e os Trapalhões