Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 04 de novembro de 2000
Oswaldo Monti é técnico talentoso.
Eletrônica, mecânica e refrigeração são assuntos que domina com segurança.
Hoje, reside e trabalha em outra cidade. Mantém, porém, vínculo com Ubatuba e com os amigos que aqui conquistou.
Um dos empreendimentos do Seu Oswaldo foi a Fábrica de Gelo da rua Adutora. Fui seu funcionário. Na temporada era uma loucura. Nunca imaginei que os turistas comprassem tanto gelo. No balcão, faziam fila com o isoporzinho das cervejas e refrigerantes. Uns levavam o gelo britado. Outros preferiam levar em barras. Eram blocos grandes: 12,5 quilos. Mesmo assim, a barra do Seu Oswaldo era a metade da do concorrente, Igawa, do Itaguá.
Para manter a liderança íamos com a SWAT, um furgão Ford F-2, 1951, azul, lotado de gelo britado, para vendermos nos campings. Um amplificador Delta completava o equipamento. Enquanto o Magoo pilotava, eu berrava no microfonezinho: "Bom dia amigo turista! Venha comprar o seu gelo britado, produzido com a puríssima água de Ubatuba! Traga seu isopor; venha conferir!" Não dava outra; vendíamos rapidinho.
Apesar da farra com a SWAT eu preferia o trabalho na fábrica. O gelo era feito mergulhando fôrmas galvanizadas cheias de água filtrada num tanque de salmoura em movimento. Neste tanque, serpentinas ligadas a um complexo de refrigeração mantinham a água salgada numa temperatura negativa. Era o suficiente para congelar a água da fôrma. E pronto. Gelo pra todo mundo.
Estocávamos tudo numa bela câmara fria, à 20 graus centígrados negativos.
Eu gostava da câmara.
Geladíssima; organizada; com centenas de barras empilhadas; prontas para a venda. Era o resultado de todo o nosso esforço. Lá repousavam os produtos que garantiriam bolsos recheados ao final da temporada.
O chato dessa história eram as gozações que eu aguentava da turma na escola: "Enxugou muito gelo hoje? Me empresta um gelinho pro guaraná? Não dá pra sair com um cara tão frio como você! Alisar gelo não é comigo." Foram sapos que precisei engolir com um certo bom humor.
No final da temporada o público alvo voltava a ser o pessoal da pesca. Mas esta clientela perdíamos feio para os Irmãos Igawa. Coisas do mercado.
Vinte anos se passaram desta interessante experiência.
Recentemente, porém, tive a sensação de voltar à câmara quando entrei na Câmara.
Vereadores gelados; organizados; papéis empilhados, prontos para as assinaturas. Estão lá graças a muito esforço: deles, dos partidos, dos companheiros de chapa, dos cabos eleitorais, dos votantes. Lá, demonstrando cansaço, pareciam repousar, esperando garantir algo de especial ao final dos trabalhos.
Já sabemos que gente nova está chegando. Espero que a próxima legislatura seja marcada por muita transparência, propostas sérias e posturas equilibradas. Muito debate, questionamento e portas abertas devem garantir calor suficiente para quebrar a frieza atual.
Para a turma de 2001 a 2004 lembro que, no meu caso, alisar gelinho é coisa do passado.
Me dá um Gelinho
Manoel Ferreira e Ruth Amaral
Francisco Egydio