Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 03 de junho de 2000
É fácil fazer um filho.
Ao menos, para a maior parte das pessoas.
Tudo é tentador.
O prazer do sexo.
A intimidade gostosa.
Não preciso dizer mais.
Escrevo para os que deixaram a inocência bem guardada numa caixinha de música.
Mas, nem tudo é moleza.
Para a mulher, há a gravidez.
Nove meses de alterações hormonais, dores, barrigão, parto.
É coisa para gente corajosa.
E criar?
Pai e mãe vidrados naquele corpinho desprotegido que exige atenção, cuidados especiais e carinho.
Tempo passando, problemas aumentando e surpresas de todo tipo.
É a filha que colocou a caneta Bic no ouvido e a tampinha ficou lá dentro.
É o filhão que espirrou perfume nos olhos e você descobre que não tem água boricada em casa.
Sem contar os casos graves que traumatizam qualquer família.
É a vida.
Por mais que se faça, o destino é implacável.
O fato é que a responsabilidade exige - daqueles que se aventuram em trazer mais gente ao mundo - dedicação total à cria, zelando por seu crescimento e educação integral.
É isso que se vê?
Ou a garotada, desinformada e desamparada, entrega o corpo na madrugada e gera filhos com a facilidade de quem prepara um Miojo Lamen?
Depois, é cada um por si e Ele para todos!
Assim, cada vez mais crianças largadas, mal cuidadas e lançadas à própria sorte.
Serão os adolescentes desajustados e os adultos frustrados do amanhã.
Logicamente, o Fantástico vai noticiar o brilhante menor abandonado que frequentou Oxford.
E nós, bobocas, vamos encher os olhos de lágrimas achando que nem tudo está perdido.
Esqueceremos, na emoção da imagem, que enquanto um escapa do caos, milhares afundam na lama.
E no dia-a-dia, jovens obcecados por sexo, pais encabulados e despreparados, mídia empurrando vulgaridade.
E para quem prega moral, ética, cultura e decência sobram rótulos variados.
Babaca, mala, quadrado e antiquado são as expressões publicáveis.
E crescem as estatísticas de grávidas precoces, mortes no parto, menores nas ruas, prostituídos, drogados, doenças venéreas, dores e sofrimentos.
Não preciso dizer que as ações para mudar tudo isso devem, necessariamente, obrigatoriamente, logicamente, partir do governo.
Ou vão querer que eu adote meia dúzia de crianças abandonadas sabendo que, no mesmo instante, uma dúzia está sendo fabricada?
Essa nossa imprensa hipócrita enche os bem intencionados de ideias utópicas.
Iludem, tocando corações, mandando estender as mãos aos irmãos desamparados.
Concordo.
Desde que, simultaneamente, faça-se uma política que estanque o surgimento de mais bolsões de pobreza.
Instrução para adultos, controle de natalidade, ensino de qualidade, médicos que procurem as famílias e mais assistentes sociais são as chaves para abrir as primeiras portas da reconstrução da sociedade.
É trabalho que exige investimento pesado.
Não serão ações entre amigos que resolverão o problema.
Nem mil cartelas do Cipriano dos Prazeres financiariam esta empreitada.
Por isso, temos que exigir investimentos sociais planejados e sérios.
Não adianta dar cesta básica.
Este é o recurso do caçador de votos que aproveita da desgraça alheia.
Transforma-se em herói só por ter enfiado o pão, que nós patrocinamos, na boca de um faminto, que nós abandonamos.
A politicalha pilantra adora essa miséria.
Sabe que o discurso pedindo consciência cívica atinge pouca gente.
Tem certeza que a grande maioria, desesperada pelo leitinho das crianças, entrega os pontos a quem garante o almoço da semana.
O povão, inocente e desavisado, abraça o safado de conversinha melosa e ainda agradece por "tudo" o que está fazendo.
Quando insisto no apoio às novas lideranças faço com a esperança de querer acertar.
Poucas pessoas suportam o complexo jogo da política.
Quem se entusiasma a encará-lo merece total incentivo.
É a possibilidade real de experimentar novas ideias e novas condutas que garantam um digno padrão para as ações políticas do amanhã.
Ao menos, para a maior parte das pessoas.
Tudo é tentador.
O prazer do sexo.
A intimidade gostosa.
Não preciso dizer mais.
Escrevo para os que deixaram a inocência bem guardada numa caixinha de música.
Mas, nem tudo é moleza.
Para a mulher, há a gravidez.
Nove meses de alterações hormonais, dores, barrigão, parto.
É coisa para gente corajosa.
E criar?
Pai e mãe vidrados naquele corpinho desprotegido que exige atenção, cuidados especiais e carinho.
Tempo passando, problemas aumentando e surpresas de todo tipo.
É a filha que colocou a caneta Bic no ouvido e a tampinha ficou lá dentro.
É o filhão que espirrou perfume nos olhos e você descobre que não tem água boricada em casa.
Sem contar os casos graves que traumatizam qualquer família.
É a vida.
Por mais que se faça, o destino é implacável.
O fato é que a responsabilidade exige - daqueles que se aventuram em trazer mais gente ao mundo - dedicação total à cria, zelando por seu crescimento e educação integral.
É isso que se vê?
Ou a garotada, desinformada e desamparada, entrega o corpo na madrugada e gera filhos com a facilidade de quem prepara um Miojo Lamen?
Depois, é cada um por si e Ele para todos!
Assim, cada vez mais crianças largadas, mal cuidadas e lançadas à própria sorte.
Serão os adolescentes desajustados e os adultos frustrados do amanhã.
Logicamente, o Fantástico vai noticiar o brilhante menor abandonado que frequentou Oxford.
E nós, bobocas, vamos encher os olhos de lágrimas achando que nem tudo está perdido.
Esqueceremos, na emoção da imagem, que enquanto um escapa do caos, milhares afundam na lama.
E no dia-a-dia, jovens obcecados por sexo, pais encabulados e despreparados, mídia empurrando vulgaridade.
E para quem prega moral, ética, cultura e decência sobram rótulos variados.
Babaca, mala, quadrado e antiquado são as expressões publicáveis.
E crescem as estatísticas de grávidas precoces, mortes no parto, menores nas ruas, prostituídos, drogados, doenças venéreas, dores e sofrimentos.
Não preciso dizer que as ações para mudar tudo isso devem, necessariamente, obrigatoriamente, logicamente, partir do governo.
Ou vão querer que eu adote meia dúzia de crianças abandonadas sabendo que, no mesmo instante, uma dúzia está sendo fabricada?
Essa nossa imprensa hipócrita enche os bem intencionados de ideias utópicas.
Iludem, tocando corações, mandando estender as mãos aos irmãos desamparados.
Concordo.
Desde que, simultaneamente, faça-se uma política que estanque o surgimento de mais bolsões de pobreza.
Instrução para adultos, controle de natalidade, ensino de qualidade, médicos que procurem as famílias e mais assistentes sociais são as chaves para abrir as primeiras portas da reconstrução da sociedade.
É trabalho que exige investimento pesado.
Não serão ações entre amigos que resolverão o problema.
Nem mil cartelas do Cipriano dos Prazeres financiariam esta empreitada.
Por isso, temos que exigir investimentos sociais planejados e sérios.
Não adianta dar cesta básica.
Este é o recurso do caçador de votos que aproveita da desgraça alheia.
Transforma-se em herói só por ter enfiado o pão, que nós patrocinamos, na boca de um faminto, que nós abandonamos.
A politicalha pilantra adora essa miséria.
Sabe que o discurso pedindo consciência cívica atinge pouca gente.
Tem certeza que a grande maioria, desesperada pelo leitinho das crianças, entrega os pontos a quem garante o almoço da semana.
O povão, inocente e desavisado, abraça o safado de conversinha melosa e ainda agradece por "tudo" o que está fazendo.
Quando insisto no apoio às novas lideranças faço com a esperança de querer acertar.
Poucas pessoas suportam o complexo jogo da política.
Quem se entusiasma a encará-lo merece total incentivo.
É a possibilidade real de experimentar novas ideias e novas condutas que garantam um digno padrão para as ações políticas do amanhã.
Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor
Rita Lee