19.3.11

A questão Galvão

Celso de Almeida Jr.


Publicado no jornal A Cidade - Coluna Política & Políticos
Ubatuba-SP, 26 de fevereiro de 2000


Vou falar de um amigo. Por isso, espero que ele compreenda as minhas palavras como uma mensagem construtiva. É o que acredito estar fazendo.
José Lúcio Galvão, da Costamar Transportes, Turismo, Terraplanagem, Gráfica e Agropecuária, é homem de família. Cresceu, aprendendo a valorizar o trabalho sob um estilo exigente. A vida fez de seu pai, já falecido, um homem determinado, consciente de que manter os negócios exigia mais suor e menos poesia. Esse patrimônio José Lúcio Galvão aplica em seus empreendimentos. Conquistou, porém, aquela sensibilidade que todo homem sofrido acaba alcançando. Por isso, hoje, com seus dois belos filhos, faz o que pode para proporcionar a mais saudável e feliz infância. Sabe, pois aprendeu com a vida, que além de valorizar o trabalho, a meninada precisa de atenção e diálogo. As gerações evoluem. José Lúcio está fazendo a sua parte.
E como age com seus funcionários?
Bem, nesse caso, medir as palavras será exercício que não poderei fazer sem cautela. Esse assunto é delicado. Minha visão de recursos humanos difere da de José Lúcio. Sou, por temperamento, muito aberto com os funcionários de nossa empresa. Minha preocupação em torná-los "da família" não evita, vez ou outra, uma amarga e decepcionante ação trabalhista. Duro, para quem já passou por isso, é constatar que normalmente elas partem daqueles que a gente menos espera. Acontece que o meu universo é pequeno comparado ao do José Lúcio. Nessas condições pergunto: dá para ser "amiguinho"? É possível que os especialistas em administração exaltem as atitudes elementares para elevar o moral da equipe. Mas, vamos ao básico: funcionário feliz é o que ganha bem. Agora, considere o Brasil e, especificamente, Ubatuba. Imagine os encargos trabalhistas que a Costamar recolhe. Some a isso a enorme responsabilidade de contratar motoristas capacitados que conduzirão homens, mulheres e crianças por estradas pouco conservadas. Lembre ainda que uma frota precisa de manutenção permanente, veículos recentes e peças de reposição de qualidade. Assim, se os seus funcionários não têm tudo o que merecem, não deve ser por falta de vontade.
Mas é preciso escrever. Seu estilo como empresário segue o modelo norte-americano. Você não sabe como é? Eu explico. Se o concorrente está morrendo afogado, pega-se uma mangueira, leva-se à sua boca e abre-se a torneira. Pronto! Em função disso, imagine a turminha que quer vê-lo ardendo num caldeirão. Quanto à filantropia - felizmente - também assemelha-se aos americanos. Pouca gente sabe mas, silenciosamente, ele ajuda instituições, agremiações esportivas, amigos em dificuldade e até ex-funcionários arrependidos. É também anfitrião dos melhores. Bom papo, contador de "causos", demonstra toda a energia na condução dos negócios, sendo reconhecidamente um empresário de sucesso. É um bom amigo. Não fosse por isso, eu dificilmente teria o crédito que ele me concedeu. Minha continha na Costamar Terraplanagem não é pequena. Se eu não tivesse essa chance, o acesso à nossa escola, que ainda é ruim quando chove, seria uma lagoa mesmo em dias ensolarados. Coisas de Ubatuba. Como a prefeitura dorme, arcar com as despesas é a única saída para quem tem negócios em bairros sem calçamento e captação de águas pluviais. Por essas e outras entendo perfeitamente porque ele anda de Jeep Chrysler Cherokee e eu ando de Jeep Willys Overland. E, com a maior modéstia, declaro em alto e bom som: No mundo dos negócios, dos grandes empreendimentos, das jogadas comerciais, quando Galvão fala, Almeida cala.
Só que na política...
José Lúcio sabe que há espaço para um nome novo. Como gosta do jogo, filiou-se ao PPB, via deputado federal Ary Kara. Neste partido, conquistou a presidência causando inusitada emigração de Rogério Frediani ao PFL, onde está Paulo Ramos, ex-desafeto do ex-vice. Mas é preciso alertar. Nem sempre os métodos empresariais são adequados para a política. Sabidamente, o dinheiro garante poderosas campanhas eleitorais. Mas os resultados só são positivos quando o investimento é feito dentro dos mais cautelosos princípios de valorização do jogo democrático. Neste terreno, José Lúcio Galvão está na volta de apresentação. Se tiver prudência terá um futuro político promissor. Se ouvir os amigos, poderá entrar numa rodovia bem construída, sinalizada, apropriada e segura para quem não expõe sua frota aos riscos desnecessários dos caminhos esburacados. Nesse campo, não querendo ser arrogante, sei dirigir direitinho. Abusando um pouco, com aquela ironia possível entre amigos, posso até sugerir: Na política da renovação, quando Almeida fala...

Como Nossos Pais
Belchior